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"Às vezes, é preciso saber entristecer"
(Ryuichi Sakamoto)

Pensamento retirado do blog Menina Limão.
ALMAS PERFUMADAS

Tem gente que tem cheiro
de passarinho quando canta,
de sol quando acorda,
de flor quando ri.

Ao lado delas,
a gente se sente no balanço de uma rede
que dança gostoso numa tarde grande,
sem relógio e sem agenda.

Ao lado delas,
a gente se sente comendo pipoca na praça,
lambuzando o queixo de sorvete,
melando os dedos com algodão doce
da cor mais doce que tem pra escolher.
O tempo é outro.
E a vida fica com a cara que ela tem de verdade,
mas que a gente desaprende de ver.

Tem gente que tem cheiro
de colo de Deus,
de banho de mar
quando a água é quente e o céu é azul.

Ao lado delas,
a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis.

Ao lado delas,
a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo,
sonhando a maior tolice do mundo
com o gozo de quem não liga pra isso.

Ao lado delas,
pode ser abril,
mas parece manhã de Natal,
do tempo em que a gente acordava
e encontrava o presente do Papai Noel.

Tem gente que tem cheiro
das estrelas que Deus acendeu no céu
e daquelas que conseguimos acender na Terra.

Ao lado delas,
a gente não acha que o amor é possível,
a gente tem certeza.

Ao lado delas,
a gente se sente visitando um lugar feito de alegria,
recebendo um buquê de carinhos,
abraçando um filhote de urso panda,
tocando com os olhos os olhos da paz.
Ao lado delas,
saboreamos a delícia do toque suave
que sua presença sopra no nosso coração.

Carlos Drummond de Andrade


Ponto final, parágrafo.

CANÇÃO DO DIA DE SEMPRE

Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...

Mário Quintana

Lembrancinhas.


"Um único momento de beleza e de amor justifica a vida inteira"
(Rubem Alves)

Relendo a Bons Fluidos de março de 2008, vi esta tabela de referência entre colheres e xícaras criada pela equipe da revista e resolvi compartilhá-la com vocês. Espero que a tabela seja útil para vocês como está sendo para mim.


De costas voltadas à razão.
"Para andar, basta colocar um pé depois do outro. Um pé depois do outro. Não é complicado. Não é difícil. Dá para ter em mente pequenas metas" (Adriana Lisboa): 1. Escrever diariamente em um papel uma coisa boa que aconteceu no meu dia; 2. Focar nas coisas boas à minha disposição e não só no que não possuo; 3. Gastar com o necessário e descobrir fontes de satisfação fora das vitrines; 4. Procurar algo que acalme e dê prazer quando eu estiver em crise comigo mesmo; 5. Saudar o manhecer com bons pensamentos e atitudes positivas.


Estado: com os pés no chão e a cabeça na lua.


Receber amigos, sejam eles novos ou antigos, é uma das coisas boas da vida.


Lúcia Helena, adorei dividir um período da minha tarde com você. Espero que você tenha gostado da nossa pequena atividade. Desejo vê-la em breve. Obrigado pelo carinho. Beijos!


O meu subterfúgio: você.

Confesso: sou viciado em coca-cola.


Sem saber o (tanto) que dizer.

Há pessoas assim.


É para este lugar que fujo quando a saudade chega.
PROPÓSITO

Viver pouco mas
viver muito
Ser todo o pensamento
Toda a esperança
Toda a alegria
ou angústia - mas ser

Nunca morrer
enquanto viver

Eunice Arruda


Eu só faço o retorno a mim mesmo em meio a solidão.
O HAVER

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
essa intimidade perfeita com o silêncio.
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo.
Perdoai: eles não tem culpa de ter nascido.

Resta esse antigo respeito pela noite
esse falar baixo
essa mão que tateia antes de ter
esse medo de ferir tocando
essa forte mão de homem
cheia de mansidão para com tudo que existe.

Resta essa imobilidade
essa economia de gestos
essa inércia cada vez maior ante diante do infinito
essa gagueira infantil de quem quer balbuciar o inexprimível
essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons
esse sentimento da matéria em repouso
essa angústia da simultaneidade do tempo
essa lenta decomposição poética
em busca de uma só vida
de uma só morte
um só Vinicius.

Resta esse coração queimando
como um círio numa catedral em ruínas
essa tristeza diante do cotidiano
ou essa súbita alegria ao ouvir na madrugada
passos que se perdem sem memória.

Resta essa vontade de chorar diante da beleza
essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido
essa imensa piedade de si mesmo
essa imensa piedade de sua inútil poesia
de sua força inútil.

Resta esse sentimento da infância subitamente desentranhando
de pequenos absurdos
essa tola capacidade de rir à toa
esse ridículo desejo de ser útil
e essa coragem de comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração,essa disponibilidade,
essa vagueza de quem sabe que tudo já foi,
como será e virá a ser.
E ao mesmo tempo esse desejo de servir
essa contemporaneidade com o amanhã
dos que não têm ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar,
de transfigurar a realidade,
dentro dessa incapacidade de aceitá-la tal como é
e essa visão ampla dos acontecimentos
e essa impressionante e desnecessária presciência
e essa memória anterior de mundos inexistentes
e esse heroísmo estático
e essa pequenina luz indecifrável
a que as vezes os poetas tomam por esperança.

Resta essa obstinação em não fugir do labirinto
na busca desesperada de alguma porta
quem sabe inexistente
e essa coragem indizível diante do grande medo
e ao mesmo tempo esse terrível medo de renascer
dentro da treva.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
de refletir-se em olhares sem curiosidade,sem história.
Resta essa pobreza intrinseca,esse orgulho,
essa vaidade de não querer ser príncipe senão de seu reino.

Resta essa fidelidade à mulher e ao seu tormento
esse abandono sem remissão à sua voragem insaciável.
Resta esse eterno morrer na cruz de seus braços
e esse eterno ressuscitar para ser recrucificado.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte
esse fascínio pelo momento a vir, quando, emocionada
ela virá me abrir a porta como uma velha amante
sem saber que é a minha mais nova namorada.

Vinicius de Moraes
MEU PAPEL É SER SUA COMPANHIA.
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